Tens noção?
Tens noção da responsabilidade?
Sabes que não reajo bem a pressões. Não lido bem com isso. Taquicardias assolam-me. Pelo menos penso que são taquicardias. Quando o coração chora, lateja. É isso, não é? Inspiração e expiração atropelam-se, querendo ultrapassar a sua ordem natural, fazendo com que já não saiba se entra o oxigénio e se sai medo em forma vaporizada. Imagens processadas mentalmente surgem em catadupa, traçando sempre cenários catastróficos, cada um pior que o outro. Parece uma colagem de mil filmes de terror, onde sou sempre aquela primeira personagem a morrer de forma inquieta, usando um eufemismo.
Pernas que tremem. Mesmo a tremer, parecendo ter sido atingidas por rajadas de duzentos quilómetros por suspiro. Não tremem como varas verdes, mas sim como pequenas folhas de outono, quase despegadas da sua árvore, que lhes transmitia segurança, para, num momento qualquer, inesperado, se desconetarem da mesma, emergindo só num sentimento de independência e de saudade da segurança transmitida.
Boca seca. Ao ponto de não permitir engolir anos de frustração e de desejo não correspondido. Sem qualquer humidade, relembrando o deserto árido da vida que se passa sem ter com quem a partilhar. Transpiração profusa, pois momentos destes são decisivos. Representam mudanças. Possíveis mudanças... Talvez nada mude...
Respiro fundo, tentando acalmar tanto corpo como alma. Aproximo-me. Aproximas-te. Fecho os olhos. Talvez tenhas fechado os teus. E um toque dos teus lábios é cura de todas as maleitas para este hipocondríaco apaixonado por ti.