O Nozes.
A escassos vinte quilómetros de Mação fica a terra do homenageado de hoje. Barca da Amieira, a pequena aldeia viu nascer Vítor Manuel Pereira Fernandes Nozes, a 4 de gosto de 1956.
A entrar na idade escolar, os pais de Vítor mudaram-se para a nossa cidade devido a motivos profissionais, pois Portalegre era uma terra de oportunidades.
O futebol surgiu cedo na sua vida, e ainda jovem, influenciado pelo seu grupo de amigos que partilhava esta paixão inexplicável pela bola, iniciou os treinos naquele que seria o clube primeiro na sua longa e inolvidável carreira. E um dos momentos que terá alicerçado esta decisão de representar os azuis, em terra de dois clubes grandes, foi uma singela oferenda de umas velhas botas de travessa por parte de uma das antigas glórias do clube, o senhor Domingos Parra.
Foi ainda como juvenil que começou esta ligação ao clube que mais marcou a sua carreira futebolística, no longínquo ano de 1971, no Grupo Desportivo Portalegrense. Rapidamente se afirmou como uma das mais valias nos escalões de formação, acabando por se afirmar naturalmente numa equipa de seniores já ela preenchida de talento durante os anos que lá jogou: Catinana, companheiro inseparável do eixo da defesa, Augusto Mendes, Mílton, Orivaldo e muitos outros. Viviam-se tempos de ouro no futebol portalegrense, onde a rivalidade Desportivo/Estrela atingia níveis estratosféricos, fazendo ambas as equipas crescer de qualidade, alcançando ambas destaque no futebol, não só regional, mas com todo o mérito, também nacional.
O nosso Vítor era descrito pela imprensa da época como um defesa central “habilidoso, sóbrio e discreto”, apologista do “catenaccio” italiano, o que em bom português nós descrevemos como um defesa duro, do tipo “passa a bola, não passa o jogador”, mas nunca maltratando a redondinha...
Os títulos chegariam com alguma naturalidade para quem conhecesse o seu talento e o dos seus comparsas desta aventuras. Destacam-se dois títulos nacionais da 3ª Divisão Portuguesa pelo GDP, nas épocas de 1975/76, e doze anos depois, em 1987/88.
Colega estimado e amigo, o carácter de líder, bem como o conhecimento e interesse pelo estudo tático e pelo trabalho nos treinos, cedo deixaram perceber que quem respira futebol, não pode ficar sem ele. E assim aos 35 anos inicia a sua carreira de treinador imediatamente após se ter retirado dos relvados, exatamente no clube onde se formou.
Teve inúmeras experiências como treinador depois, e um treinador foi-se formando à custa da sua experiência e trabalho, e não na bajulação alheia: Arronches, Proença-a-Nova, “O Elvas”, Elétrico de Ponte de Sôr, Crato e Estrela de Portalegre, onde alcançaria uma subida à 2ª Divisão B.
Pauta a sua carreira no banco pelo rigor exigido, pela amizade genuína que o liga para a vida com os jogadores que treinou, bem como como as direções dos clubes. E com quase todos os árbitros...
O Nozes cidadão mistura-se com o Nozes do futebol. Toda a sua vida permitiu que este desporto ocupasse este lugar de destaque, confundido-se por vezes a vida profissional com a pessoal, com a segunda a sair muitas vezes prejudicada. O apoio familiar sempre foi muito importante.
Em tempos que a honestidade e a beleza do desporto-rei são postas em causa por escândalos de corrupção e violência, é mais que justa a homenagem a quem vive o futebol pelo que ele é: uma paixão que nos arrebata, um amor que não se explica!
Obrigado, Vítor Nozes. Pela pessoa que és, por aquilo que representaste, e por tudo aquilo que ainda tens dentro de ti para dar! Se Portalegre for uma cidade justa, o teu legado não desaparecerá!