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Há Em Nós Qualquer Coisa

Vidas de 400 palavras.

Há Em Nós Qualquer Coisa

Vidas de 400 palavras.

Quando a alma não morre.

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As recordações são quadros vivos que podemos reviver, não nos falhe a memória. Temos muitos. De situações que nos põem a rir sozinhos, de tamanha alegria. De momentos tristes, que se recusam a abandonar os nossos pensamentos, estejamos gratos por eles ou não. 
Insistimos em recordar a infância. E se para muitos as primeiras obras de arte mentais são dos tempos de escola... para mim não. Como se de um comando de um videogravador a minha cabeça se tratasse, puxo a cassete atrás, como orgulhoso filho dos anos oitenta que sou, bem ao início, e a escola que recordo não é a dos livros e dos professores, mas a da bola e do campo pelado. 
Carrego no “Play”. Vejo a lama de dias chuvosos e o árido do verão. Redes rotas e remendadas, balizas de ferro forjado, cal viva traçando as linhas do nosso desígnio, do que nos fazia andar pelos campos de futebol.
Os apitos, marcando os compassos dos erros que se corrigem pela boca do mestre da tática, do “sensei” do esférico. A voz ecoando pelo campo, as palmas bradando o elogio de algo bem feito.
O cheiro do balneário, “potpourri” de ambição e vitória através da transpiração. De calções enlameados, botas rasgadas pelo empenho, meias por cima do joelho falhando em proteger as canelas em ferida por dar tudo em prol de um bem maior.
Passamos a cassete para a frente, para o fim de semana, sábados ou domingos de jogo. Palestra. A motivação necessária para vencer. O jogo de xadrez montado durante a árdua semana de treinos, culminando em sessenta, setenta, noventa minutos de bailar constante centrado numa bola de couro.
O equipar. O vestir do azulão, manto sagrado que só quem o envergou pode perceber o envaidecimento que provoca. O calção branco, símbolo da pureza que o futebol de formação sempre representou para esta nossa instituição. A base que sempre sustentará o clube, feito de homens e mulheres que ajudam meninos e meninas a chegarem para alem do que pensavam ser possível.
A meia vermelha, cor da luta, do sangue por vezes derramado pelo sucesso. Indescritível.
Passamos a cassete um pouco mais à frente. Ah, os títulos nacionais. Grandes jogadores, enormes equipas, orgulho desmesurado. As viagens na adolescência para apoiar a equipa por esse país fora, seja na Beira profunda, ou no Algarve de cheiro a mar. O Desportivo de 76 e 88. O orgulho da cidade de Régio, perdida nas serras, de gente sofredora do trabalho e amante do desporto rei.
A cassete chega ao fim. Stop. Vivemos tempos diferentes, passaram-se tempos complicados. O fim esteve próximo. Mas é assim que se diferem os grandes, os predestinados, dos outros. Da dificuldade vem a bonança e o meu, o teu, o nosso clube de coração está mais forte que nunca, com gente que dá o corpo ao manifesto, fazendo muito a troco de nada, abdicando dos seus para formar os nossos. O futuro só pode sorrir ao nosso velhinho Desportivo, que completa 95 anos hoje, cheio de vitalidade e de planos, para que o futuro lhe possa continuar a sorrir, pois a cassete ainda tem muito espaço livre para novas conquistas.
Para nós não é só um orgulho ser do Desportivo. Simplesmente está-nos gravado na alma. E como eterna que é, não morre nem esmorece.

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